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aD AETERNUM
segunda,
segunda,
segunda,
segunda,
segunda,
antevéspera de segunda,
véspera de segunda.
e a vida redundA
jOGO DURO
acaba que todo mundo tem um não
escondido debaixo da manga
para uma emergênciA
sORTE
ao cair no abismo
logo vem a morte
antes que a dor.
nisto sempre cismo:
ter alguma sorte
seja como foR
aTO FALHO
às vezes,
sem querer cometo pequenas bondadeS
sOB AS MARQUISES I – BOM E RUIM
na hora de deitar,
ninguém pra ralhar comigo:
"não vá dormir sem lavar os péS!”
sOB AS MARQUISES II – TANTO FAZ
dum terrível pesadelo
ou dum sonho bom,
para alguns
sempre é mais difícil acordaR
bALA PERDIDA
foi
por pouco.
afasto-me
do corpO
o QUE POSSO DIZER DE CONCRETO
quem me dera ser o pedaço quebrado
dessas estátuas invisíveis
a caçar a dinastia na poeira do trânsito
ou o reboco descaído dos muros
com fantasmas rabiscados
pelos parachoques bêbados da cidade.
nem isso.
sou do edifício,
do meio-fio,
da esquina,
de tanta esquina
o suicídio,
o tropeço,
o vício,
o meretrício.
pois se nem a sombra dos heróis
que cavalgam inertes
me dão honras,
e deles herdo somente a queda,
contraio-me como pedrA
hUMANO
disfarço e apalpo os bolsos
a ver se não perdi as chaves
ou algo do gênero
(humano)
sou um deles,
mas me pego a olhar para outro sentido.
fico sentido,
contudo
sigo com tudO
uÉ! I – COM TATO
toquei numa mancha de sangue
e me sujei de friO
uÉ! II – MICROCRÔNICA CRÔNICA
tomei um susto
ininterruptO!
uÉ! III – A FILA ANDA
mas quase ninguém
dá um passo adiantE
aVENIDA CENTRAL
sinto-me muito importante
andando pela avenida central,
todos são importantes
andando pela avenida central:
menores,
piratas,
mendigos;
pirados,
malandros,
perdidos
et cetera e tal.
sinto-me muito importante
andando pela avenida central,
todos são importantes
andando pela avenida centraL
vERDADES
numa praça histórica,
um sujeito prega.
uns dizem-no escolhido,
aqueles, um mago,
outros, a solução de todos os nossos velhos problemas.
"é somente mais um hipócrita eloquente!",
alguns atacam.
mais ao largo,
num bando de silêncios desesperados,
a inveja fluente no pensamento de um gagO
vERGONHA É ROUBAR
por isso não coro
quando digo onde morO
sINAL
olhe, moço,
eu de novo a desconcertar seus nervos executivos,
crente em conseguir um troço
melhor
na vida.
desculpe-me.
o melhor da vida é o troco,
o resto da melhor das intenções,
já imaginou um hambúrguer?
muita gente diz que ter misericórdia gera violência.
e é isso mesmo, moço, é justo,
é tudo muito justo,
qualquer coisa está bom, Deus lhe pague,
já dá para comer uma violenciazinha.
eu daqui de fora de sua vida e de seu carro
não sei saber de seus problemas,
da explosão de seu cartão de crédito,
das esquisitices de seus filhos,
dos arranca-rabos lá pro seu lado,
dos desquites, dos cânceres de sua família,
desculpe, peço-lhe mil desculpas.
é que há muita coisa entre nós:
esse vidro tenso, a película sombria,
a trama de sua roupa limpa,
de certa qualidade; depois seu corpo lavado
com sabonete líquido,
então sua benevolência de morto amador,
é frio aí dentro, moço? sei, o ar está gelando,
desculpe.
desculpe-me por pedir desculpa,
é que há muita coisa entre nós:
sei que o senhor é bem vivo - anos de estudo,
não é possível! -,
o senhor é bem vivo pra saber estar morto,
mortinho da Silva, assim como eu,
só que sem experiência.
que nessa área eu que sou doutor, moço,
não vem que não tem, me desculpe.
mas não se preocupe,
com o tempo o senhor também chega lÁ
cONTROLE REMOTO
não sei se isto
é um alerta:
mas quanto mais assisto
à tevê aberta,
mais desisto
da coisa certA
gAUCHE
a Drummond
- quando nasci tinha uma pedra no meio do caminho...
- e agora, José?
- eta vida...
- vai!
- mas como dóI!
uM HOMEM SÓ
cada homem é uma coleção de homens.
uma multidão solitária.
agora, por exemplo, estou revoltado,
a ponto de ter um troço,
está olhando para mim por quê?
agora, manso, educado,
querendo ajudar a todos,
com licença, obrigado.
e há muito mais de nós
caso alguém queira saber.
e se ninguém se interessar
outros de mim que me confortem.
sou só um homem,
um homem só,
sem saber se é mais certo ou errado:
sou um homem só,
sou só um homem
entre mim, a virtude, o pecadO
rEPARO
reparo na deseducação obstinada,
reparo nos civilizados omissos,
reparo nas interpretações equivocadas,
reparo no "e eu com isso?"
reparo numa pá de coisa errada:
um reparo, por DeuS!
eDUCAÇÃO DE RUA I – CLASSE DIURNA
disseram-me para ser educado,
por isso xingo em silênciO
eDUCAÇÃO DE RUA II – CLASSE NOTURNA
baratas,
ratazanas,
comida azeda,
vômito dos bêbados,
escarros dos doentes profissionais,
mijo dos travestis,
bueiro entupido,
bicho morto,
boa noitE!
gANGUES
ser
do
bem
não
nos
cai
beM
oITO ANOS
a Casimiro
oh! que ansiedade que tenho
na aurora da minha vida,
a minha infância perdida
não perdoarei jamais!
que amor, que sonhos, que flores?
Mazelas: tanta canseira
assombra às segundas-feiras
no aço das capitais!
como são tristes os dias,
o desfolhar da existência!
— expira a alma de ausência
como o ferido de dor;
um mar de amargo veneno,
um céu de anjos malvados,
o mundo é um sonho roubado,
a vida defino: sem coR!
fESTEIRO
depois de tanta festa
dói-me a razão na testa:
será que presta
o que a mim restA?
fAST FOOD
fera faminta, quero dilacerar alguém,
alguma coisa,
qualquer coisa,
quero abocanhar, matar,
quero esfolar, comer, trucidar,
lamber o fundo do prato,
ir ao intrínseco paladar do tutano.
mas se me derem um sanduíche e um refresco
naquela lanchonete
por hoje me dou por satisfeitO
qUAL O SEU PESO?
há tanta gente que anda meio voando.
será que a gravidade se esqueceu
por um momento
de trabalhar na gravidade
do momentO?
cOISA COM COISA I - JANELAS
alumínio com alumínio,
madeira com madeira,
um equilíbrio mínimo,
será isso besteirA?
cOISA COM COISA II - CULTURAS
uns poucos violinos
bem tocados
entre tantos tamborins
bem tocados
trarão enfadO?
cOISA COM COISA III - REFORMAS
será que fazer direito
e dar um jeito
têm mesmo
o mesmo efeitO?
pERTURBADO
perturbado com a sujeira intransponível
das ruas da megalópole,
(tudo muda, o novo não é novo)
aproveito o ensejo do nojo:
divisão de classes me perturba,
gente sem classe me perturba,
preconceito mudo me perturba,
sorriso forçado me perturba,
disse-que-disse me perturba,
caridade hipócrita me perturba,
pseudopatriotismo me perturba,
a vitória da mediocridade... pfuuu! como isso me perturba.
(tudo muda, o novo não é novo)
beleza arrogante me perturba,
sensualidade burra me perturba,
mau gosto solenizado me perturba
amizade só de sim me perturba,
ingratidão de amor puro me perturba,
pisar em ovos me perturba,
interesse enviesado me perturba,
insensibilidade... céus! insensibilidade definitivamente me perturba.
(tudo muda, o novo não é novo)
e assim como qualquer qualidade de imundície estabelecida me perturba,
toda novidade imunda me perturba, me perturba, me perturba:
sou um perturbado
diante da visão do novo imundO